A revista Estudos de Literatura
Brasileira Contemporânea, do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira
Contemporânea da Universidade de Brasília, comunica que está encerrando
definitivamente suas atividades devido à falta de financiamento. Em circulação
desde 1999, foram publicados 62 números até este ano, sem interrupções nem
atrasos. A revista é qualificada como A1 na avaliação da Capes e indexada no
Scielo, Scopus, Redalyc e em inúmeros outros indexadores nacionais e internacionais,
sendo reconhecida pelos pesquisadores da área, no Brasil e no exterior. Sempre
foi editada com recursos insuficientes, contando com a colaboração gratuita de
professores e estudantes, que roubavam tempo de seu descanso para produzi-la,
por acreditarem em um projeto de reflexão crítica e plural sobre a literatura e
o campo literário brasileiros atuais.
Com o desaparecimento dos editais de apoio a publicações no Brasil e sem suporte institucional (ainda que a Estudos tenha sido um dos únicos três periódicos da UnB a receber nota máxima na última rodada de avaliação da Capes), não há como dar continuidade ao trabalho. Esta é uma das consequências do desmonte da educação pública e da pesquisa no país, especialmente na área de Humanas. Os reflexos do fechamento de uma revista desse porte para os programas de pós-graduação em literatura são grandes. Só no último ano, a revista publicou 50 textos, de pesquisadores ligados às mais diferentes instituições brasileiras e também do exterior.
A inviabilização de uma revista como a Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, que comunga dos ideais da ciência aberta, não é uma situação isolada. Em nome da “sustentabilidade”, há uma pressão imensa para que os periódicos acadêmicos cobrem dos autores a publicação de seus artigos. Caso contrário, na ausência de outras formas de apoio, teriam que repassar os custos aos leitores. Existem revistas estrangeiras cobrando o equivalente a R$ 15.000,00 ou até mais para um brasileiro publicar seu texto; revistas nacionais que já se submeteram à ideia cobram valores também na casa dos milhares de reais. Uma vez que a publicação em periódicos acadêmicos, além de garantir a circulação do conhecimento, é importante para a formação do currículo do pesquisador e para a qualificação dos programas de pós-graduação, cabe perguntar: quem pagará por isso?
Certamente não serão os pesquisadores sem dinheiro ou as instituições mais periféricas. Recursos de universidades públicas, que poderiam ser utilizados para financiar as revistas brasileiras, já estão sendo empregados para pagar editoras acadêmicas comerciais que, na outra ponta, cobram valores exorbitantes para que as bibliotecas universitárias possam disponibilizá-las a seus professores e alunos (comprometendo o orçamento das bibliotecas e, portanto, a atualização dos acervos de livros). Trata-se de um negócio muito lucrativo. Não por acaso, nos últimos anos a Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea recebeu – e rechaçou, evidentemente – várias propostas de venda de sua “marca” para editoras predatórias.
Diante desse quadro, decidimos que não podemos nos impor mais sacrifícios para continuar a editar a revista – um trabalho que não “dá pontos” no currículo, não conta na carga horária, não é remunerado e não recebe praticamente nenhum apoio ou mesmo reconhecimento. Juntaremos nossas forças para resistir em outras frentes, em defesa da democracia, da justiça social, da ciência e da educação pública. Agradecemos enormemente a colaboração de centenas, talvez milhares de colegas pesquisadores nesses mais de 20 anos, que nos enviaram artigos, deram pareceres, ajudaram na divulgação da revista. Foi um lindo trabalho coletivo.
Brasília, 26 de maio de
2021.
Regina
Dalcastagnè, Universidade de Brasília (editora-chefe)
Patrícia
Trindade Nakagome, Universidade de Brasília (editora científica)
Laeticia
Jensen Eble, Universidade de Brasília (editora-executiva)
Leocádia
Aparecida Chaves (secretária executiva)
Paula Queiroz Dutra, Instituto Federal de Brasília (editora da
seção temática)
Paulo
César Thomaz, Universidade de Brasília (editor da seção
temática)
Sandra
Assunção, Université Paris Nanterre (editora da seção
temática)
Anderson
da Mata, Universidade de Brasília (editor da seção de
tema livre)
Igor
Ximenes Graciano, Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (editor da seção de tema livre)
Leila
Lehnen, Brown University (editora da seção de tema
livre)
Milton
Collonetti, Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (editor da seção de resenhas)
Edma
Cristina Alencar de Góis, Universidade do Estado da Bahia
(editora da seção de resenhas)
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