Fotografia: Nelson Almeida |
“Meus amigos e minhas
amigas.
Chegamos ao final de uma
das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente
a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande
vencedor: o povo brasileiro.
Esta não é uma vitória
minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória
de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos,
dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse
vencedora.
Neste 30 de outubro
histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e
não menos democracia.
Deseja mais – e não menos
inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito
e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos
liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.
O povo brasileiro mostrou
hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai
governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.
O povo brasileiro mostrou
hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome,
que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade,
que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar
seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.
O povo brasileiro quer
viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado
sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.
Quer liberdade religiosa.
Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos
os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.
O povo brasileiro quer
ter de volta a esperança.
É assim que eu entendo a
democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo
palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.
Foi essa democracia, no
sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi
com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo
de toda a nossa campanha.
E é essa democracia que
nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento
econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve
funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para
perpetuar desigualdades.
A roda da economia vai
voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação
das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra.
A roda da economia vai
voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos
e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às
nossas mesas.
Com todos os incentivos
possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar
seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.
É preciso ir além.
Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir
que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função.
Enfrentar sem tréguas o
racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas
tenham os mesmos direitos e oportunidades.
Só assim seremos capazes
de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as
pessoas que mais precisam.
Um Brasil com paz,
democracia e oportunidades.
Minhas amigas e meus
amigos.
A partir de 1º de janeiro
de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles
que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único país, um único povo,
uma grande nação.
Não interessa a ninguém
viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as
famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do
ódio.
A ninguém interessa viver
num país dividido, em permanente estado de guerra.
Este país precisa de paz
e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar
no outro um inimigo a ser temido ou destruído.
É hora de baixar as
armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a
vida.
O desafio é imenso. É
preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia,
na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e,
sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.
É preciso reconstruir a
própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito
às diferenças e o amor ao próximo.
Trazer de volta a alegria
de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da
bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a
ninguém, a não ser ao povo brasileiro.
Nosso compromisso mais
urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que
milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou
que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.
Se somos o terceiro maior
produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos
tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de
exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro
possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.
Este será, novamente, o
compromisso número 1 do nosso governo.
Não podemos aceitar como
normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao
frio, à chuva e à violência.
Por isso, vamos retomar o
Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer
de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da
extrema pobreza.
O Brasil não pode mais
conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade
que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país
precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.
Para além de combater a
extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.
É preciso retomar o
diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir,
controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e
republicana entre os três poderes.
A normalidade democrática
está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações
de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.
A Constituição rege a
nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela,
ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.
Também é mais do que
urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.
Por isso vamos trazer de
volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas
prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada
área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial,
juventude, habitação e tantas outras.
Vamos retomar o diálogo
com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras
prioritárias para cada população.
Não interessa o partido
ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso compromisso será sempre com
melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.
Vamos também
reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade
civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e
Social.
Ou seja, as grandes
decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não
serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a
sociedade.
Acredito que os principais
problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com
diálogo, e não com força bruta.
Que ninguém duvide da
força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.
Meus amigos e minhas
amigas.
Nas minhas viagens
internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos
países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.
Saudade daquele Brasil
soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos.
E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.
O Brasil que apoiou o
desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e
transferência de tecnologia.
Que trabalhou pela
integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o
Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.
Hoje nós estamos dizendo
ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser
relegado a esse triste papel de pária do mundo.
Vamos reconquistar a
credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os
investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para
que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e
passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão
social e sustentabilidade ambiental.
Queremos um comércio
internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a
União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que
condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria
prima.
Vamos re-industrializar o
Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos
empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.
Vamos lutar novamente por
uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de
Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio
entre as nações.
Estamos prontos para nos
engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços
para a promoção da paz entre os povos.
O Brasil está pronto para
retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos
os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.
Em nosso governo, fomos
capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma
considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global.
Agora, vamos lutar pelo
desmatamento zero da Amazônia
O Brasil e o planeta
precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de
madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às
custas da deterioração da vida na Terra.
Um rio de águas límpidas
vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a
fauna e coloca em risco a vida humana.
Quando uma criança
indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma
parte da humanidade morre junto com ela.
Por isso, vamos retomar o
monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade
ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária
indevida.
Ao mesmo tempo, vamos
promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região
amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir
o meio ambiente.
Estamos abertos à
cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de
investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem
jamais renunciarmos à nossa soberania.
Temos compromisso com os
povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade.
Queremos a pacificação ambiental.
Não nos interessa uma
guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer
ameaça.
Meus amigos e minhas
amigas.
O novo Brasil que iremos
construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro,
mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a
fraternidade, em qualquer parte do mundo.
Na última quarta-feira, o
Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo
brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.
Quero dizer que desejamos
o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça
sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.
Todos os dias da minha
vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao
próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante
será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.
No que depender de nós,
não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo
brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança.
Um tempo em que o povo
brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar
aquilo que sonha.
Para isso, convido a cada
brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa
eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo
que nos une, do que para nossas diferenças.
Sei a magnitude da missão
que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou
precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários,
parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros
e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais
fraterno.
Volto a dizer aquilo que
disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de
candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:
O Brasil tem jeito. Todos
juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho
dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em realidade.
Maus uma vez, renovo
minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe
nossa jornada.”
São Paulo, 30 de
outubro de 2022.
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