Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea
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LIVROS PUBLICADOS
Laeticia Jensen Eble e Regina Dalcastagnè (org.). Literatura e exclusão. Porto Alegre: Zouk, 2017.
Da contestação do cânone e de seus limites à discussão sobre o corpo como instância última de subjugação, este livro se oferece como firme crítica ao presente, mas também como uma abertura à interlocução e como uma aposta nas possibilidades do literário. Elaborado a partir de um conjunto de textos publicados nos primeiros 50 números da revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea – ele propõe não só a análise da penetração de diferentes vozes sociais no interior da literatura, mas também dos deslocamentos gerados pela sua presença no campo literário, e acadêmico, brasileiro. Com isso, não poderia deixar de refletir, e mesmo se posicionar, sobre as profundas desigualdades sociais que marcam esse país e que se traduzem em violências de todo tipo, da exclusão física à humilhação diária de integrantes de grupos marginalizados, passando ainda pelo não reconhecimento da força e da beleza de suas manifestações artísticas. A exclusão não é só um processo econômico, ela envolve diversos aspectos da vida social, política, cultural, afetiva daqueles(as) que se quer afastados(as) dos espaços de poder, dos espaços de exercício da autonomia, dos espaços de onde se pode imaginar e compartilhar o mundo.
Lucía Tennina. Cuidado
com os poetas! Literatura e periferia na cidade de São Paulo. Porto Alegre:
Zouk, 2017.
Tendo como foco os
saraus das periferias de São Paulo e as publicações dos escritores
oriundos dessas regiões, este livro traz uma leitura interdisciplinar, baseada
na crítica literária e na antropologia social. A proposta é relocalizar as
perguntas em torno do campo literário brasileiro a partir das produções da
literatura marginal da periferia. Sem a intenção de fechar-se em um olhar
panorâmico, nem de absolutizar o pertencimento desses escritores à literatura
marginal da periferia, busca-se pensar como eles questionam ou legitimam as
fronteiras da ordem estabelecida no campo através de seus textos, de suas
práticas e do posicionamento dos agentes envolvidos. Observa-se que os limites
do campo literário vêm sendo questionados, a partir de produções que transbordam
suas linguagens para outro tipo de discursos e outro tipo de recursos, como a
fotografia ou as performances, por exemplo, e nesse sentido os conceitos que
dão conta da literatura entram em crise.
Sophia Beal. Brasil em construção: as obras públicas na literatura do século XX. Porto Alegre: Zouk, 2017.
O Brasil investiu em projetos de construção ambiciosos ao longo do século XX, como a criação de uma nova capital, extensas redes de rodovias e usinas hidrelétricas. Para além de seus propósitos práticos, essas obras públicas tornaram-se símbolos significativos da modernidade do país, que buscavam inspirar nos cidadãos brasileiros noções de conexão e de progresso. No entanto, a ficção brasileira expõe as tensões entre a infraestrutura construída para o bem comum e o lado oculto das obras públicas: remoções, devastação ambiental, acesso desigual, exploração e deterioração urbana. Este livro analisa os recursos utilizados pelos escritores em suas narrativas– tais como mistério, contradição, jogo de palavras e fantasia – para revelar o papel sem precedentes das obras públicas na formação da percepção de modernização do Brasil.
Luciene
Azevedo e Antonio Marcos Pereira. Palavras da crítica contemporânea. Salvador:
ParaLELO13S, 2017.
Palavras da crítica contemporânea faz referência direta ao conhecido livro organizado por José Luis Jobim no início dos anos 90, Palavras da crítica, e que foi tão disseminado em nossos cursos de Letras, fundamental para a formação de uma geração que se profissionalizou justamente no momento de disseminação de questionamentos típicos dos Estudos Culturais no país. O volume é, a exemplo de seu antecessor, organizado na forma de uma coleção de verbetes-ensaio, nos quais se busca favorecer uma dicção informal e efetivamente ensaística. Os textos caminham exibindo os passos, os impasses, e as constatações das pesquisadoras a respeito de temas (e termos) como inespecificidade, afeto, ética, campo literário, comunidade, campo expandido, forma e gênero.
Lucía Tennina, Mário
Medeiros, Érica Peçanha e Ingrid Hapke. Polifonias
marginais. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2016.
Berlim, Buenos Aires, Campinas, São Paulo. Ciências Sociais e Teoria Literária. Dois continentes, três países e idiomas, quatro pesquisadores e seis trabalhos acadêmicos. Periferia, negritude, ativismo político e cultural, movimentações literárias. Polifonias marginais surge do encontro de estudiosos de diferentes percursos e motivações que se debruçaram sobre as chamadas literaturas negra, marginal e periférica, e agora expõem as entrevistas feitas em seus trabalhos individuais para além das páginas de suas teses. Um livro que apresenta múltiplos discursos. Escritores, rappers, poetas e organizadores de saraus, donos de bares onde acontecem recitais literários conversam, direta ou indiretamente, segundo temas distribuídos em quatro capítulos: “Sistema literário, ativismo político-cultural negro e periférico” (por Mário Medeiros), “Trajetórias, atuação e produção cultural” (por Érica Peçanha), “Das teorias periféricas” (por Ingrid Hapke) e “Saraus: poesia, gestão e território” (por Lucía Tennina). Um retrato polifônico do que sejam as literaturas negra, marginal e periférica hoje, à altura de suas importâncias.
Stefania Chiarelli e Godofredo de Oliveira Neto (org.). Falando com estranhos: o estrangeiro e a literatura brasileira. Rio de Janeiro: 7Letras, 2016.
Os dezessete capítulos
que compõem o volume trabalham com modos de representação da alteridade,
investigando formas e dicções na literatura brasileira para falar do
estrangeiro e do imigrante. Além de artigos dos organizadores, há textos de
Silviano Santiago, Nelson Vieira, Maria Zilda Cury, Angela Maria Dias, Paulo
Tonani do Patrocínio, Paloma Vidal, Masé Lemos, Giovanna Dealtry, Muna Onram,
Claudete Daflon, Ana Maria Silva, Eurídice Figueiredo, Alcmeno Bastos, Daniela
Versiani e Beatriz Resende. No livro, "o leitor encontra não somente uma
análise estética de textos literários que tematizam a alteridade, mas se
defronta com a intenção de pensar o compromisso
político do crítico – aquele que deve assumir a responsabilidade pelos passados
não ditos a assombrar o presente histórico, conforme assinala Homi Bhabha.
Neste espaço empreendemos, portanto, uma mirada movida pelo desejo de
solidariedade, do encontro possível referido pelo crítico indiano, recortando
do heterogêneo conjunto da literatura brasileira episódios em que esses estrangeiros
passam a protagonistas, ou a elementos centrais para a compreensão das
narrativas. Dito de outra forma: desobedecendo ao conhecido ditado, aqui se
pretende falar de e com estranhos. Olhar para esses escritos é compreender a
literatura em sua complexidade e variedade".
Ricardo Barberena e Regina Dalcastagnè
(org.). Do trauma à trama: o espaço
urbano na literatura brasileira contemporânea. Porto Alegre: Luminara,
2015.
O livro é formado por um conjunto de artigos de pesquisadores do
Brasil e do exterior que têm por fio condutor a noção de espaço urbano como
cenário e reflexo das negociações identitárias e subjetivas entre os diversos
grupos sociais que nele circulam. A cidade e seus lugares não são simples
substratos para os embates identitários entre indivíduos e grupos: são
constituídos pelos deslocamentos, as normas de convivência ou segregação, os
discursos, as práticas e os traumas desses indivíduos e grupos. Além dos
fenômenos migratórios e de exílio, que crescentemente questionam a autoridade
tradicional dos Estados, há no mundo contemporâneo uma onda de reconfiguração
dos limites internos da cidade, em sua organização centro-periferia,
problematizada por vozes de minorias que lutam para serem ouvidas e para ir
além dos limiares desenhados politicamente para silenciá-las ou obscurecê-las.
Os artigos pretender discutir, sem oferecer respostas fechadas, de que modo os
recursos estéticos da forma literária dão vazão a esses fenômenos e impasses do
contemporâneo, acompanhando suas transformações e suas resistências.
Sandra Regina Goulart Almeida. Cartografia contemporâneas: espaço, corpo, escrita. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015.
Partindo da hipótese de que as narrativas contemporâneas de
autoria feminina, em especial, falam prioritariamente do espaço contemporâneo –
pós-colonial, transnacional, translocal, diaspórico, multicultural e
globalizado –, irremediavelmente marcado pelas questões de gênero, Sandra
Regina Goulart de Almeida traz para a discussão uma reflexão sobre as possíveis
e diferentes formas de articular o espaço através da escrita. Trabalhando com
uma abordagem comparatista e na esteira teórica dos estudos culturais, da
crítica literária feminista e dos estudos de gênero, o livro apresenta um
recorte metodológico que privilegia obras de escritoras que elegem a vivência
do trânsito como uma marca textual, e não necessariamente autoral. Muitas
dessas autoras experimentaram as possibilidades ou enfrentaram os percalços da
movência transcultural ou a carregam como herança familiar, expressando em suas
obras uma mescla de afiliações nacionais e subjetivas das mais variadas. Os
temas escolhidos pelas escritoras, bem como a análise de suas diferentes
estratégias narrativas, levam a uma reflexão significativa
sobre os vários movimentos contemporâneos.
Pedro Mandagará e Rita Terezinha Schmidt (org.) Sustentabilidade: o que pode a literatura? Santa Cruz: Editora da UNISC, 2015.
Livro eletrônico gratuito disponível em http://www.unisc.br/portal/pt/editora/e-books/427/sustentabilidade-o-que-pode-a-literatura.html
A partir da noção-chave de
sustentabilidade, o livro investiga problemáticas contemporâneas ligadas a
diversas crises por que passamos. O tempo presente nos impõe, a cada momento,
uma posição relativa a temas como o aquecimento global, a poluição, a extinção
em massa de espécies e o etnocídio. Esses hiperobjetos (como conceituou Timothy
Morton) dizem respeito ao mesmo tempo a todos os seres sobre a terra e a cada
um de nós, afetando desde nosso corpo (afinal, é o ar que respiramos) até a
sobrevivência dos oceanos. Como campo, os estudos literários não podem ficar
alheios a essas grandes preocupações de nosso tempo. Este livro trata desde
temas relacionados diretamente à ecologia, como os direitos animais, até
conexões que perpassam de maneira menos óbvia o discurso sobre a
sustentabilidade, como a crise do humano e do humanismo. Suas cinco partes
reúnem capítulos de quinze autores. Na primeira parte, investiga-se a condição
animal na literatura, tanto em perspectiva teórica como analítica. A segunda se
detém na literatura ameríndia, norte-americana e brasileira. A terceira parte
investiga o humano a partir de seus limites e de sua necessária contingência.
Na quarta parte, diversas temáticas contemporâneas, desde a crítica queer até a educação, revelam suas
conexões com o tema da sustentabilidade. Por fim, alguns contextos específicos
(rio-platense, chinês e japonês) são investigados em profundidade.
Regina Dalcastagnè e Virgínia Maria Vasconcelos Leal (orgs.). Espaço e gênero na literatura brasileira contemporânea. Porto Alegre: Zouk, 2015.
Cada vez mais, o espaço tem se tornado categoria fundamental para a compreensão do mundo e dos processos contemporâneos de formação das identidades. Não é diferente na configuração do campo literário e em sua análise. Nas narrativas brasileiras, onde podem ser percebidos deslocamentos, disputas e apaziguamentos de identidades tradicionalmente colocadas em seus “devidos lugares” e que, agora, não mais se acomodam, como é o caso das mulheres, a atenção ao espaço é crucial. “Mulheres” entendidas, é claro, como um grupo heterogêneo e complexo, formado por identidades múltiplas e contraditórias, que não se esgotam no sexo biológico ou no gênero, mas que, em grande medida, partilham pressões e expectativas impostas por uma sociedade que continua marcada pela dominação masculina. Assim, todos os artigos que compõem este volume tratam de escritoras que problematizam a questão do espaço e do gênero. Não por coincidência, o livro reúne trabalhos de pesquisadoras envolvidas com as discussões sobre as identidades de gênero, mas com uma preocupação transversal, levando em conta sua intersecção com a classe social, a etnia, a nacionalidade, a orientação sexual, entre outras. E todas enfatizam a importância do local de fala. Afinal, saber quem constrói representações alternativas às visões dominantes e estereotipadas é questão central, tanto na esfera da produção literária quanto de sua crítica.
Regina Dalcastagnè e Luciene Azevedo (orgs.). Espaços possíveis na literatura brasileira contemporânea. Porto Alegre: Zouk, 2015.
Este livro propõe uma discussão sobre as configurações do espaço na literatura brasileira contemporânea – espaço que reflete confrontos e hierarquias sociais e que é, ele próprio, objeto de rivalidade e signo das diferenciações entre grupos e agentes. Nos textos aqui reunidos, o espaço físico em que se situam narrativas e se deslocam personagens, que é sempre simultaneamente um espaço simbólico que atribui valorações distintas a quem dele participa, é colocado em questão junto com o campo literário, espaço metafórico em que ocorrem a movimentação e os embates de suas/seus agentes – autoras/es, leitoras/es, editoras/es, críticas/os, tradutoras/es, livreiras/es etc. Neste sentido, mais do que apenas buscar os modos como o espaço aparece representado na literatura brasileira contemporânea, procura-se discutir as tensões estabelecidas a partir de relações conflituosas com o espaço vivenciadas dentro e no entorno das obras. Ao pensar a cidade, palco quase exclusivo da produção literária contemporânea, parte-se do princípio de que ela não é um espaço homogêneo, mas fragmentado e, sobretudo, hierarquizado, marcado por interdições tácitas, que definem quais habitantes podem ocupar quais lugares. Na base destas hierarquias urbanas, estão as principais assimetrias sociais – vinculadas a classe, sexo, raça, orientação sexual, idade, deficiência física. É importante, então, observar de que forma a literatura brasileira contemporânea reage a essa situação.
Ricardo
Barberena e Vinícius Carneiro (orgs.). Das luzes às soleiras: perspectivas críticas na
literatura brasileira contemporânea. Porto Alegre: Luminara, 2014.
Este livro surge do percurso dinâmico entre
diferentes espaços na literatura, tratando, em essência, do conceito de limiar,
o qual não separa dois territórios, mas, contrariamente, possibilita a
transição de fluxos e contrafluxos. Na passagem das luzes da modernidade às
soleiras da contemporaneidade, ocorre uma substituição na nossa gramática
teórica, em que se abandona a categoria de limite: na soleira da escritura, no
limiar entre as áreas, é impossível determinar onde acaba e onde começa a
especificidade de cada espaço de conhecimento. E sair de uma zona hermenêutica
de conforto pode ser algo desafiante à relação que estabelecemos com o
cotidiano e seus atores. Sendo assim, visitar o limiar é manifestar um desejo
de não adesão aos valores triunfantes das narrativas oficiais e canonizadas, é
compreender a literatura como um campo minado de batalhas de um conhecimento em
constante metamorfose. Nas palavras de João Gilberto Noll, que assina a orelha
do livro, “é da força que pode advir nesse universo ficcional que surge a sua
função política, não um regramento salvacionista, as microexplosões balsâmicas
que afastam o leitor do conformismo, abrindo-lhe de surpresa um limiar”. Assim,
o livro, composto de 15 ensaios de especialistas em
literatura no Brasil e no exterior, é resultado de múltiplos encontros e trânsitos entre variados
escritores e temas contemporâneos.
Rebecca J. Atencio. Memory's Turn: Reckoning with Dictatorship in Brazil. Madison: University of Wisconsin Press, 2014.
Após vinte e um anos de ditadura militar, o Brasil começou sua transição para a democracia em 1985. Durante as duas décadas seguintes, porém, houve um silêncio oficial sobre os crimes contra direitos humanos cometidos por agentes do Estado – crimes que incluíram tortura, assassinato e desaparecimento forçado de opositores do regime autoritário. O livro conta a história da virada rumo à memória no Brasil, tanto na política como na produção cultural. A autora mostra como testemunhos, telenovelas, romances, peças de teatro e espaços da memória interagem com políticas adotadas pelo Estado brasileiro. Em certas circunstâncias, esta interação produz o que ela chama de ciclos da memória cultural. Cada ciclo reelaboraria o significado do passado e abriria caminho para outras obras culturais, criando a possibilidade para novos ciclos. O livro analisa desde os testemunhos e a Lei da Anistia, a partir de obras como Em câmara lenta, de Renato Tapajós, O que é isso, companheiro?, de Fernando Gabeira, e Os carbonários, de Alfredo Sirkis, até a história recente do prédio que, durante a ditadura, sediou o DOPS em São Paulo, explorando as diversas iniciativas para transformá-lo em um espaço da memória, incluindo uma peça de teatro e o atual Memorial da Resistência.
Lucía Tennina (org.). Saraus: Movimiento/Literatura/Periferia/São
Paulo. Buenos Aires: Tinta
Limón, 2014.
A antologia, resultado de anos de pesquisas da autora sobre o tema,
apresenta um panorama do autodenominado “Movimento de Literatura Marginal”, surgido
no final da década de 1990 nas periferias de São Paulo e que vem conseguindo
reconhecimento a partir de diversas práticas literárias. A primeira parte do
livro reúne os nomes mais conhecidos da cena marginal/periférica, que deram início
ao Movimento, como Ferréz, Alessandro Buzo, Sérgio Vaz, Sacolinha, Allan da
Rosa e Binho. Na segunda parte, estão incluídos poemas, muitas vezes inéditos,
que circulam pelos bares das periferias nas noites de sarau, todos eles
escritos por poetas que vem dando continuidade ao Movimento. Numa terceira
parte, a antologia apresenta uma seleção de manifestos, gênero privilegiado por
este grupo de escritores. O livro se fecha com um anexo composto pelas
biografias dos escritores e por um texto de Heloísa Buarque de Hollanda, que
faz uma comparação entre a produção marginal dos anos 1970 e a atual. O livro
conta, também, com fotografias e grafites feitos por artistas da região.
Sara Brandellero (org.). The Brazilian road movie book: journeys of (self)discovery. Cardiff: University of Wales Press, 2013.
O volume, dedicado ao gênero do road movie no Brasil, reúne dez capítulos de especialistas brasileiros, europeus e norte-americanos que analisam como a iconografia da estrada e o tema da viagem têm articulado construções identitárias no contexto brasileiro: de subjetividades individuais (principalmente de gênero, raça e classe) a construções identitárias nacionais e transnacionais. Incluindo estudos que abordam o cinema brasileiro a partir do anos 1920 até hoje, o livro questiona percepções convencionais deste gênero cinematográfico (tradicionalmente associado ao cinema norte-americano) e considera como ele emerge e se desenvolve no contexto brasileiro.
Susanne Klengel, Christiane Quandt, Peter W. Schulze e Georg Wink (orgs.). Novas vozes: Zur brasilianischen Literatur im 21. Jahrhundert [Novas vozes: sobre a literatura brasileira no século 21]. Frankfurt: Vervuert, 2013.
Com o avanço econômico dos
últimos anos, o Brasil se tornou foco de interesse internacional e sua literatura,
de algum modo, vem se posicionando dentro da nova ordem mundial. Apesar desta
crescente presença internacional, os autores contemporâneos brasileiros ainda
são pouco conhecidos nos países de língua alemã. Esta coletânea oferece uma
orientação geral sobre a produção literária no novo milênio e investe na
análise de algumas obras representativas. A partir de cinco campos temáticos – a
construção literária de identidades, a prática poética no espaço social, a nova
literatura urbana, as novas tendências de internacionalização e as relações
entre texto e imagem – os 17 capítulos examinam textos de Santiago Nazarian,
Fernando Monteiro, Carola Saavedra, Chico Buarque, Paulo Lins, Dinha, André
Sant’Anna, Luiz Ruffato, Nelson de Oliveira, Paulo Ribeiro, Bernardo Carvalho,
Adriana Lisboa, Tatiana Salem Levy, João Paulo Cuenca e Lourenço Mutarelli.
Sophia Beal. Brazil under Construction: Fiction and Public Works. New York: Palgrave Macmillan, 2013.
O Brasil investiu em projetos de construção ambiciosos ao
longo do século XX, como a criação de uma nova capital, extensas redes de
rodovias e usinas hidrelétricas. Para além de seus propósitos práticos, essas
obras públicas tornaram-se símbolos significativos da modernidade do país, que
buscavam inspirar nos cidadãos brasileiros noções de conexão e de progresso. No
entanto, a ficção brasileira expõe as tensões entre a infraestrutura construída
para o bem comum e o lado oculto das obras públicas: remoções, devastação
ambiental, acesso desigual, exploração e deterioração urbana. Este livro
analisa os recursos utilizados pelos escritores em suas narrativas– tais como
mistério, contradição, jogo de palavras e fantasia – para revelar o papel sem
precedentes das obras públicas na formação da percepção de modernização do
Brasil.
Paloma Vidal, Stefania Chiarelli e Giovanna Dealtry (orgs.). O futuro pelo retrovisor: inquietudes da literatura brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.
Não mais ruptura, e sim
reinvenção. Munida de um astuto senso bricoleur,
a literatura brasileira contemporânea tem revisitado intensamente o passado. E,
nesse movimento, opera uma espécie muito peculiar de pilhagem – aquela baseada
no atrito entre diferentes temporalidades, entre as distintas formas de
reinventar o moderno. Em O futuro pelo retrovisor, 17 estudiosos
observam a obra de 17 autores nacionais, buscando analisar diferentes aspectos
dessa reapropriação do passado. Com isso, derrubam um estereótipo corriqueiro
na crítica atual: o de que toda a novidade na ficção nacional de agora consiste
numa “multiplicidade impossível de circunscrever”. Ao mesmo tempo, a reunião de
artigos constata como o lugar da crítica literária é, hoje, indissociável do da
própria literatura. E mostra como ambos preservam, nas raias da atualidade, o
que a ficção tem de melhor: seu poder de inquietude.
Regina Dalcastagnè. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Rio de Janeiro/Vinhedo: Editora da UERJ/Horizonte, 2012.
Resultado de quinze anos de pesquisa, o livro traz uma
análise aprofundada sobre a narrativa brasileira contemporânea. Atenta a quem
escreve e sobre quem se escreve, a autora investiga a literatura como artefato
social, que dialoga com sua própria história e com o mundo que a cerca,
inserida num campo de produção formado por autores, editores, críticos e
leitores. O panorama que aqui surge do romance e do conto brasileiros das
últimas décadas se baseia na leitura cuidadosa de um conjunto expressivo de
obras representativas, revelando as estratégias discursivas que envolvem
diferentes procedimentos estéticos e diferentes interesses políticos. O
território contestado da literatura brasileira contemporânea é aquele em que a
dicção e a temática populares lutam para obter legitimidade, em que o monopólio
da voz é questionado e em que o enfrentamento entre os criadores e as questões
do seu tempo chega a resultados que não estão determinados de antemão.
Regina Dalcastagnè (org.). Histórias em quadrinhos: diante da experiência dos outros. Vinhedo: Horizonte, 2012.
As histórias em quadrinhos que,
até bem pouco tempo atrás, só entravam de contrabando nas mochilas escolares,
vêm adquirindo um novo status no Brasil. A tradução e a publicação de álbuns
cada vez mais sofisticados, a abertura de espaços próprios para os quadrinhos
nas grandes livrarias, as resenhas em jornais e revistas, a participação de
quadrinistas em feiras literárias, em programas de entrevistas e em eventos
acadêmicos legitima, de algum modo, uma produção que sofria o duplo preconceito
de ser, ao mesmo tempo, “literatura de massa” e “destinada a crianças e jovens”
– o que servia, em última instância, para desqualificar uma expressão artística
a partir da desqualificação (etária e de classe) de seus consumidores. Nada de
muito incomum no campo cultural, onde a distinção de alguns se faz a partir da
desvalorização do “gosto” de outros. Neste livro estão reunidos trabalhos que
foram apresentados e debatidos nas Jornadas de Estudos sobre Romances Gráficos,
que vêm acontecendo na Universidade de Brasília com organização do Grupo de
Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea. São diferentes aproximações,
com diferentes abordagens desse fenômeno que sofre contínuas
transformações.
Luiz Antonio de Assis Brasil (coord.), Camila Canali Doval, Camila Gonzatto da Silva, Gabriela Silva (orgs.). A escrita criativa: pensar e escrever literatura. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2012.
O livro é uma antologia de artigos e textos ficcionais sobre o processo da escrita criativa. Ele surgiu a partir da experiência do escritor e professor Luiz Antonio de Assis Brasil, que trouxe dos Estados Unidos os modelos amplamente difundidos de Creative Writing, desenvolvendo-os em suas oficinas literárias nos últimos 30 anos. As organizadoras foram suas alunas no curso de pós-graduação em Escrita Criativa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Ana Maria Lisboa de Mello, Camila Gonzatto da Silva, André Brayner de Farias, Marcelo Leandro dos Santos e Ricardo Timm de Souza. Literatura e psicanálise: encontros contemporâneos. Porto Alegre: Dublinense, 2012.
O livro reúne 26 pesquisadores do Brasil e da Argentina com as mais variadas procedências – filosofia, literatura, psiquiatria, psicanálise, ciências jurídicas, criminologia, cinema –, que buscam promover um profundo intercâmbio entre a literatura e a psicanálise, áreas que estão em constante diálogo com outras áreas das ciências humanas. Segundo os organizadores, “a literatura foi sempre o comércio vivo com as profundidades e a interlocução aberta com infinitos fantasmas palpáveis; sua substância sobrevive, solidamente, em meio à fatuidade do banal”. E a psicanálise, “resgatando estilos primogênios de abordagem do real e do significado, avança na temporalidade descoberta, perdura e se reconstrói em meio à platitude de um mundo aparentemente desprovido de memória, construindo e reconstruindo sua própria narrativa”.
Carmen Villarino Pardo e Luiz Ruffato (orgs.). O conto brasileiro contemporâneo. Galiza: Edicións Laiovento, 2011.
O livro reúne 21 contos de autores que se projetaram no Brasil das últimas décadas. Organizada pela pesquisadora da Universidade e Santiago de Compostela Carmen Villarino Pardo e pelo escritor Luiz Ruffato, a coletânea tem em vista, especialmente, os estudantes de literatura brasileira na Europa. A proposta dos organizadores é apresentar "uma variedade de temas e estilos que convivem, como os seus autores e autoras nesta virada de século, num momento do sistema literário brasileiro em que é perceptível o crescimento do número de pequenas editoras, de blogues literários, de revistas literárias, de feiras e eventos literários ao longo do país em que a figura do escritor é central e que não se traduz, diretamente, num incremento no número de leitores/as".
Regina Dalcastagnè e Paulo C. Thomaz (orgs.). Pelas margens: representação na narrativa brasileira contemporânea. Vinhedo: Horizonte, 2011.
Os textos que formam este volume têm em comum a ambição de entender a narrativa brasileira contemporânea pelas margens. Há tanto a preocupação de escutar as vozes que se encontram nas margens do campo literário – aquelas vozes cuja legitimidade para produzir literatura é posta em questão e que, ao mesmo tempo, tensionam, com a sua presença, nosso entendimento do que é (ou deve ser) o literário – quanto com as representações dos marginalizados, que estão afastados dos espaços sociais de produção discursiva e, assim, quase sempre são apresentados por meio de um olhar externo. E há, por fim, a preocupação com as margens do discurso, tal como apontadas por Stuart Hall: o fato de que o significado do texto literário – bem como da própria crítica que a ele fazemos – se estabelece num fluxo em que tradições são seguidas, quebradas ou reconquistadas e as formas de interpretação e apropriação do que se fala permanecem em aberto. Trabalhando no âmbito do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, as pesquisadoras e os pesquisadores que integram o livro se debruçam sobre questões que envolvem a teorização crítica do que entendemos por representação, o papel do intelectual nos domínios do exercício desta exclusão e os modos discursivos literários que formulam novas cenas para a ficção contemporânea.
Mário Cámara,
Lucía Tennina e Luciana di Leone (orgs.). Experiencia, cuerpo y subjetividades: nuevas
reflexiones. Literatura argentina y brasileña del presente. Buenos Aires: Santiago
Arcos, 2011.
O livro reúne textos assinados por um conjunto de
especialistas da Argentina e do Brasil que abordam diferentes objetos
literários e/ou culturais em torno de três questões básicas: o corpo, as
subjetividades e as novas experiências da contemporaneidade. Os ensaios propõem
discussões sobre problemas que cercam as pesquisas sobre o contemporâneo: a intuição
de que a literatura encontra-se fora de seus próprios domínios, a consciência
da necessidade de se recontar a história e de se reatar a relação com as
origens, a constatação de que nossas experiências já não podem ser pensadas a
partir da tradicional oposição público e privado, o desejo de construir uma máquina
de leitura transnacional, transversal e diaspórica que atravesse diferentes
artes e territórios, respondendo melhor à multiplicidade de experiências que
nos constitui. O livro contém artigos de Gonzalo Aguilar, Raul Antelo, Jordana
Blejmar, Mario Cámara, Edgardo Dieleke, Luciana Di Leone, Nancy Fernández,
Florencia Garramuño, Gabriel Giorgi, Ana Kiffer, Diana Klinger, Florencia
Malbrán, Alexandre Nodari, Cecilia Palmeiro, Fermín Adrián Rodríguez, Marcos
Siscar, Mariano Siskind, Lucía Tennina, Paloma Vidal, Fernando Villarraga
Eslava e Jorge Wolff.
Sara Brandellero. On a knife-edge: the poetry of João Cabral de Melo Neto. Oxford: Oxford University Press, 2011.
Primeiro livro publicado em inglês sobre o poeta João Cabral de Melo Neto, On a knife-edge traz uma análise detalhada de sua obra tardia, enfocando A escola das facas (1980), Auto do Frade (1984), Agrestes (1985), Crime na Calle Relator (1987) e Sevilha andando (1994). O estudo procura rever leituras que privilegiam visões de João Cabral como o poeta da clareza e da precisão, propondo, em seu lugar, uma abordagem que destaca o uso da ambiguidade na articulação de uma poética altamente política. Uma vez que, como diplomata de carreira, Cabral escreveu a maior parte de sua obra fora do Brasil, é analisada, também, a maneira como suas viagens e os encontros com diferentes paisagens naturais e humanas contribuíram para a construção de uma poesia dedicada à crítica dos problemas sociais e políticos.
Regina Dalcastagnè e Anderson Luís Nunes da Mata (orgs.). Fora do retrato: estudos de literatura brasileira contemporânea. Vinhedo: Horizonte, 2010.
Neste volume, voltamos nossa
atenção para aquelas pessoas, grupos, sensibilidades e ideias situados “fora do
retrato” – que ficaram do lado de fora, ao longo da história da nossa
literatura, e ainda hoje, em geral, lá permanecem, apesar de avanços que não se
podem negar. Mas esta ausência não é entendida como uma completa anulação. O
projeto de pesquisa do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea
que deu origem aos capítulos que se seguem foi organizado em torno da ideia de space-off, elaborada por Teresa de
Lauretis, ou seja, “o espaço não visível no quadro, mas que pode ser inferido
daquilo que a imagem torna visível”. Invisibilizados nas narrativas, relegados
às posições mais secundárias ou lutando nas margens do campo literário, os
grupos subalternos ainda assim são inferidos, pois permanecem como integrantes
de uma estrutura social que depende deles para se reproduzir. Silenciadas, as
vozes dissonantes integram o espaço discursivo como o opositor velado daqueles
que monopolizam a fala. Não se resolvem aqui, nem era essa a intenção deste livro,
os dilemas enfrentados pela produção literária contemporânea. Mas são
apresentados alguns caminhos alternativos de análise, que permitem avançar na
compreensão da literatura em diálogo vivo com o mundo social de onde nasce.
Regina Dalcastagnè e Virgínia Maria Vasconcelos Leal (orgs.). Deslocamentos de gênero na narrativa brasileira contemporânea. Vinhedo: Horizonte, 2010.
Nem sempre estudos sobre a mulher
na literatura são estudos feministas, se não estiverem comprometidos com a
necessidade de mudanças sobre a realidade circundante. E nem sempre estudos de
gênero são exclusivamente sobre as mulheres, se são comprometidos com uma
perspectiva relacional, na qual se enquadram os efeitos de significado sobre o
qual são efetivadas as formas de ser mulheres
e homens. No entanto, o conceito de
gênero não deve ser tão esvaziado a ponto de se perder a história das lutas
feministas. Os artigos reunidos aqui problematizam muitas dessas questões,
tendo em vista a ideia de representação das estruturas de gênero, em especial
na narrativa brasileira contemporânea. As autoras são pesquisadoras de
diferentes universidades e têm se debruçado sobre o tema com olhares diversos e
complementares, sempre relacionando gênero a outras categorias – como classe, nacionalidade, orientação sexual, etnia. Se
a identidade é considerada uma busca, uma posição nem sempre fixa do sujeito, o
gênero tem importância ímpar, pois está ancorado, culturalmente, na existência
corporal concreta. Logo, pensar criticamente em termos de gênero é questionar
as formas de hierarquização presentes na sociedade, ainda mais se nos colocamos
no campo feminista de pensamento e de ação. Se nem todas e nem todos são livres
para se deslocarem assim, tão à vontade, dadas suas condições de existência,
não deixamos de acreditar em possibilidades (incluindo aí as possibilidades da
literatura e da própria crítica literária) que nos levem a deslocamentos cada vez mais amplos e mais generosos.
Anderson Luís Nunes da Mata. O silêncio das crianças: representação da infância na narrativa brasileira contemporânea. Londrina: Eduel, 2010.
A infância foi explorada por gerações de escritores realistas
e modernistas como tempo de passagem para a vida adulta, tema frequentemente
trazido à tona de modo simbólico e, ele mesmo, símbolo que condensa tensões, traumas
e contradições com vistas a uma condição humana de feição mais adulta que
infantil. Nesta perspectiva, O silêncio
das crianças traz um estudo comparativo entre obras e autores brasileiros
como Miguel Sanches Neto, Paulo Lins, José Louzeiro, Hilda Hilst e Marcelo
Mirisola, entre outros, acerca das diferentes representações na infância.
Articula, desta forma, as relações entre a literatura e o mundo contemporâneo,
colocando a criança como foco principal desse processo.
Regina Dalcastagnè (org.). Ver e imaginar o outro: alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporânea. Vinhedo: Horizonte, 2008.
Ver e imaginar o outro envolve uma operação que admite diferentes
gradações, desde percebê-lo dentro de uma estreita relação de interdependência
até o extremo oposto, que é constituí-lo como uma alteridade radical. O olhar
hegemônico que julga e classifica, sob o qual se fundam as sociedades
desiguais, é pautado pela violência, que não é senão o desejo de anulação ou
destruição do outro. Um outro cujo aprisionamento em estereótipos e
preconceitos implica sua estigmatização, sua degradação, sua exclusão: são
pobres, negros, favelados, empregadas domésticas, loucos, imigrantes, mendigos,
presidiários, toda sorte, enfim, de deserdados sociais. Uma das marcas da
literatura brasileira contemporânea é a estetização da violência que está na
base de nossa sociedade. A despeito disso, o espaço da criação literária pode
significar também lugar de encontros, de acolhimento das diferenças, de diálogos,
de coexistência de múltiplas vozes, de manifestação da alteridade. É para esse
ponto – da recusa de injustiças e intolerâncias e da proposta de reação contra elas – que
convergem as obras literárias analisadas no conjunto dos dez ensaios, de pesquisadores
de diferentes instituições e com diferentes abordagens teóricas, reunidos nesta
coletânea.
Stefania Chiarelli. Vidas em trânsito: as ficções de Samuel
Rawet e Milton Hatoum. São Paulo:
Annablume, 2007.
Na contramão de trabalhos que
buscam identificar o caráter histórico e épico da imigração, este livro destaca
aspectos do drama íntimo da figura do imigrante, encontrando neles pontos de
partida para se narrar a experiência do transplante cultural. A análise
literária de Contos do imigrante (1956), de Samuel Rawet, e Relato de
um certo Oriente (1989), de Milton Hatoum, provoca a reflexão a respeito de
categorias teóricas como hibridismo, tradução cultural, memória e identidade. O
contraponto entre os dois autores busca estabelecer um diálogo entre dois modos
de se narrar a experiência da imigração, associando a secura da escrita de
Rawet ao aspecto da inadequação, da impossibilidade e do isolamento do
imigrante. Por outro lado, identifica a exuberância narrativa de Hatoum, que
entrevê na diferença a possibilidade de um repertório enriquecedor, interação
que permite sínteses imprevistas. Identificando duas linhagens distintas
de escrita, o estudo mergulha no modo com um autor amazonense descendente
de libaneses e outro judeu-polonês descrevem a experiência de se estar entre
culturas e entre línguas.
Giovanna Dealtry, Masé Lemos, Stefania Chiarelli (orgs.). Alguma prosa: ensaios sobre literatura brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: 7letras, 2007.
Como pensar a produção literária
atual? Que critérios utilizar para avaliá-la? Diante desse desafio, imposto a
toda reflexão séria sobre a literatura recente, os/as dezesseis autores/as de Alguma prosa buscam refletir sobre o
contemporâneo para além das demarcações cronológicas. A partir da análise de
obras de autores como João Gilberto Noll, Chico Buarque, Bernardo Carvalho,
Adriana Lisboa, Luiz Ruffato, Milton Hatoum, Conceição Evaristo, Ana Maria
Gonçalves, Rubens Figueiredo e Cíntia Moscovich, entre outros, este livro
pretende participar de um debate que avança em relação à simples constatação da
pluralidade e da diversidade que caracterizariam este momento.
Regina Dalcastagnè. Entre fronteiras e cercado de armadilha: problemas da representação na narrativa brasileira contemporânea. Brasília: Editora UnB, 2005.
O diálogo entre literatura e
mundo social é o pano de fundo dos ensaios que formam este livro. Seu principal
objeto é a narrativa brasileira contemporânea – aquela que, para nossa
intranquilidade, não enfrentou os crivos do tempo, nem da crítica. São
discutidas obras de João Ubaldo Ribeiro, Cristovão Tezza, Marilene Felinto,
Bernando Carvalho, Rubem Fonseca, João Antônio, Clarice Lispector, Carolina
Maria de Jesus, Paulo Lins e vários outros. Trata-se de uma literatura que fala
aos nossos dias, com sua temática urbana, suas personagens dilaceradas, até
mesmo com as incertezas de seus narradores, tão distantes da onisciência de
tempos atrás. Mas que fala também por intermédio de seus silêncios, por tudo
que está ausente de suas páginas e que reflete a invisibilidade a que nossa
sociedade condena tantos grupos de pessoas. Colocando em questão os critérios
do que costumamos chamar de literatura e analisando a representação que a
narrativa contemporânea nos oferece de diferentes aspectos do mundo social,
este livro convida a uma reflexão engajada e crítica, ainda que receptiva, do
fazer literário do Brasil nas últimas décadas.
Regina Dalcastagnè. A
garganta das coisas: movimentos de Avalovara, de Osman Lins. São
Paulo/Brasília: Editora UnB/Imprensa Oficial do Estado, 2000.
Este livro é uma incursão por uma
das experiências mais radicais da literatura brasileira: o romance Avalovara (1973), de Osman Lins. Obra
que se narra a si mesma, que exibe sua estrutura e dialoga com o seu tempo, Avalovara não permite uma leitura única,
redutora. Exige, bem ao contrário, uma perspectiva múltipla, baseada em
diferentes campos da arte e do conhecimento. É este o olhar proposto por A garganta das coisas – o olhar de um
viajante que busca reconstruir a viagem de um outro. Dividido em três partes, o
livro busca, em um primeiro momento, analisar a distribuição espacial do
romance: desde sua estrutura, que já nasce vinculada à estética medieval, até a
relação do protagonista com as cidades que percorre – na Europa – e com aquelas
que traz dentro de si – do nordeste brasileiro. A segunda parte discute o tempo
e suas múltiplas implicações, seja na organização da matéria narrativa, seja na
relação da personagem com seu processo histórico e constitutivo. Por fim, a última
parte fala da criação e de seus enfrentamentos. Primeiro, entre o criador e a
opressão que o nega, o contamina e, muitas vezes, o destrói. Depois, entre o
criador e o objeto de sua criação – no caso, a palavra.
Regina Dalcastagnè. O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro. Brasília: Editora UnB, 1996.
A partir da leitura de um
conjunto de nove romances que têm como tema central a vida sob a ditadura
instaurada em 1964 no Brasil, este livro discute os modos possíveis encontrados
por escritores e escritoras para dizer da opressão. Indo do realista ao
alegórico, do elíptico ao intimista, os romances de Antônio Callado, Ignácio de
Loyola Brandão, Ivân Ângelo, Érico Veríssimo, José J. Veiga, Josué Guimarães,
Lygia Fagundes Telles, Salim Miguel e Ana Maria Machado, contribuíram para o
registro daquilo que não se podia falar: a tortura, os assassinatos, as
perseguições, a corrupção, a própria censura. São obras que permanecem, hoje,
como cicatrizes profundas – marcas de um tempo que não admite ser esquecido.